Sinais e sintomas
da PAF-TTR
Na PAF-TTR , as manifestações clínicas são multissistêmicas e debilitantes, com importante impacto psicológico e familiar.1,9
A doença pode ser influenciada pelo genótipo de TTR, pela localização geográfica ou por outros fatores genéticos e ambientais. Assim, a sintomatologia, a idade de início dos sintomas e a taxa de progressão variam entre os pacientes.
Os sintomas, que são inespecíficos e se assemelham a muitas condições, podem incluir neuropatia autonômica, disfunção gastrointestinal, manifestações oculares, distúrbios cardíacos, comprometimento da função renal ou síndrome do túnel do carpo.1,9
A neuropatia periférica sensitivo-motora é uma característica marcante da PAF-TTR ou Amiloidose Hereditária por Transtirretina com polineuropatia.
No início precoce (<50 anos de idade), pequenas fibras nervosas mielinizadas e não mielinizadas, que se associam à sensação de dor e temperatura são danificadas, o que pode se manifestar como parestesia, disestesia, alodinia, hiperalgesia ou dor espontânea nos pés. A degeneração axonal progride implacavelmente com padrão de distal a proximal.
Após 2 anos, os pacientes apresentam sintomas motores, e depois de 4 a 5 anos aparecem os primeiros sintomas de nervos superiores, como síndrome do túnel do carpo bilateral nas mãos, que é bastante frequente. As deficiências motoras também progridem, aumentando a fraqueza e a dificuldade de andar. Os casos não tratados progridem para comprometimentos motores, autonômicos e sensoriais mais graves e podem levar à morte em aproximadamente 10 anos.5
Os casos de início tardio se caracterizam pela relativa preservação das fibras nervosas não mielinizadas e pela presença de brotamento axonal. Essas características são responsáveis por sensação (superficial e profunda) prejudicada, dor neuropática grave, comprometimento motor distal precoce e sintomas autonômicos relativamente leves.10
Estágios da PAF-TTR
Estágio 1
- Neuropatia sensorial e motora limitada aos membros inferiores;
- Dor e sensação térmica gravemente prejudicada, com leve toque e propriocepção relativamente poupada (dissociação sensorial);
- Comprometimento motor leve;
- Dificuldade de deambulação sem necessidade de bengala.
Estágio 2
- Necessidade do uso de bengala;
- Neuropatia progredindo para membros superiores e tronco;
- Comprometimento motor moderado.
Estágio 3
- Fase avançada;
- Paciente acamado ou em cadeira de rodas;
- Neuropatia sensorial, motora e autonômica grave em todos os membros.
Idade e gênero
As manifestações clínicas normalmente se desenvolvem entre 30 e 50 anos de idade e afetam igualmente homens e mulheres.
No entanto, a PAF-TTR com cardiomiopatia geralmente tem início tardio e é mais observada em pacientes com 60 anos de idade ou mais, principalmente em homens.
A idade média de início dos sintomas varia de acordo com o país e as mutações mais prevalentes:1
Estimativas recentes mostram prevalência mundial de 50 mil indivíduos, com diversas apresentações fenotípicas.1
Globalmente, a mutação mais comum da PAF-TTR é a V30M, seguida pela V122I.1
As mutações em V30M são predominantemente encontradas em Portugal, Espanha, França, Japão, Suécia e em países com descendentes dessas regiões, como o Brasil. As mutações em V122I são frequentemente observadas em afro-americanos.1
Prevalência da PAF-TTR
Um estudo sobre pacientes com neuropatia periférica de causa desconhecida, realizado no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (HCFMRP-USP), identificou 129 mutações em 448 pacientes.
Na coorte de 128 pacientes de origem brasileira, observou-se que, embora a mutação V30M representasse 90,6% dos casos (semelhante ao panorama verificado nas áreas endêmicas como Portugal, Suécia e Japão), outras mutações também foram encontradas, devido à origem multivariada de nossa população, o que confirma o cenário de heterogeneidade genética no país.8
Referências Bibliográficas Clique para ver
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